PrEP - Profilaxia Pré-Exposição ao HIV
O QUE É A PrEP?
A Profilaxia Pré-Exposição ao vírus do HIV, mais comumente conhecida como PrEP é uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais:
Fumarato de tenofovir desoproxila (300 mg) e
Entricitabina (200 mg).
Ambos os medicamentos pertencem à classe dos inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN), e atuam no organismo se incorporando na cadeia de DNA viral em formação e causam o término prematuro da sua síntese, impedindo assim, a replicação do vírus.
E além de resultar em supressão viral duradoura e reduzir o risco de transmitir o vírus para outros, também aumenta os níveis das células CD4+, que são de extrema importância para o nosso sistema imunológico.
Estes fármacos possuem maiores níveis de concentração celular na mucosa anal, a partir de sete dias de uso contínuo da dose diária. Já no tecido cervicovaginal, somente a partir de aproximadamente vinte dias de uso diário. Sendo assim, durante este período é recomendado que sejam utilizadas medidas adicionais de prevenção.
POSOLOGIA
PrEP diária: consiste na tomada dos medicamentos diariamente e de forma contínua - é indicada para aqueles que se encontrem em situação de vulnerabilidade ao vírus.
PrEP sob demanda: consiste na tomada dos medicamentos somente quando a pessoa tiver uma possível exposição de risco ao vírus, devem ser tomados 2 comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual, mais um comprimido após 24 horas depois da primeira dose, e mais um, 24 horas após a segunda dose - indicada para pessoas que tenham relações sexuais menos frequentes (menos que duas vezes por semana) e que consigam planejar quando a relação irá acontecer. Além de que, como o medicamento apresenta maior concentração e em menos tempo na mucosa anal, sua eficácia é mais perceptível, somente para algumas populações como: homens cisgêneros, pessoas não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer, e travestis e mulheres transexuais que não estejam em uso de hormônios à base de estradiol.
EFEITOS COLATERAIS
Na maioria dos casos, não são apresentados efeitos colaterais, mas há uma pequena chance do indivíduo sentir dores de cabeça (cefaleia), náuseas e diarreias no primeiro mês e houve raros casos em que a PrEP causou danos renais.
Entretanto, é recomendado que os usuários da PrEP façam exames periodicamente e procurem um médico caso tenham algum sintoma mais grave.


QUEM PODE UTILIZAR?
Com os números alarmantes de casos de AIDS e de soropositividade para o vírus do HIV, foi desenvolvida a PrEP com o objetivo de reduzir a transmissão do HIV e contribuir para alcançar as metas para dar um fim nesta epidemia.
Sendo assim, como uma estratégia de prevenção o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilizou a combinação destes medicamentos para as populações que mais estão expostas a situações de risco ao vírus, sendo elas:
Pessoas transexuais;
Profissionais do sexo;
Casais sorodicordantes (um dos parceiros vive com o HIV e o outro não);
Gays e outros homens que fazem sexo com homens;
Pessoas que têm relações sexuais com múltiplos parceiros;
Pessoas que frequentemente têm relações sexuais sem camisinha;
Pessoas que possuem histórico de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST's);
Pessoas que fazem o uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV).
Entretanto, além de fazer parte desta população, é necessário preencher alguns critérios para iniciar o seu uso, sendo eles:
Testar negativo/não reagente no teste de HIV;
Não haver exposição de risco ao HIV nas últimas 72 horas, caso tenha tido avaliar a possibilidade de iniciar com a PEP;
Não haver contraindicações, como alergias para nenhum dos medicamentos da PrEP;
Realizar o exame clearance da creatinina e possuir o cálculo menor ou igual a (≥) 60ml/min;
Ter disposição para usar a PrEP de acordo com a prescrição e para fazer o teste de HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) de forma periódica (recomendado pelo Ministério da Saúde a cada 3 ou 4 meses).


PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO (PEP)
No caso de uma possível exposição ao vírus, como nas situações de:
Relação sexual desprotegida, sem o uso do preservativo, ou em caso de rompimento;
Violência sexual;
Acidente com perfurocortantes ou materiais biológicos contaminados; ou compartilhamento de seringas.
Existe a PEP, uma medida de prevenção de urgência que consiste na combinação de três medicamentos antirretrovirais, Tenofovir (TDF), Lamivudina (3TC) e Dolutegravir (DTG), que impedem a entrada do vírus nas células para que não se multiplique e se espalhe pelo organismo.
A PEP deve ser iniciada em até no máximo 72 horas após a situação de risco, de preferência nas duas primeiras horas, sendo necessário tomar os medicamentos diariamente por 28 dias, e passado o tempo do tratamento, é necessário realizar o exame anti-HIV, para verificar se a profilaxia foi eficaz.
É importante destacar que antes de iniciar o uso dos medicamentos, é realizado o teste rápido para o vírus, e caso ele seja positivo, a PEP já não é mais utilizada, sendo assim a pessoa é encaminhada para realizar o tratamento correto.


VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV)
O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), é um retrovírus que ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo contra doenças e é o responsável pelo desenvolvimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) quando há sério comprometimento do sistema imunológico do indivíduo.
TRANSMISSÃO
Sua transmissão pode ocorrer através de:
Sexo vaginal, anal e oral sem o uso de preservativos com pessoas soropositivas;
Compartilhamento de instrumentos perfuro cortantes contaminados como agulhas ou outros objetos que cortam ou furam não esterilizados;
Transfusão de sangue contaminado;
De mãe soropositiva, sem tratamento, para o filho durante gestação, parto ou amamentação.
SINTOMAS
Na fase inicial, ocorre a incubação do HIV (tempo de exposição até o surgimento dos primeiros sinais e sintomas) que pode variar de 3 a 6 semanas, os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe ou virose, como mal-estar e febre.
Na segunda fase, o sistema imunológico começa a lutar contra o vírus, sendo assim, muitas vezes é um período assintomático que pode durar anos.
Na próxima fase (sintomática inicial), as células de defesa - linfócitos T CD4+ - começam a ser destruídas e podem chegar abaixo de 200 unidades por mm³ (em um organismo normal os valores são de 800 a 1200 unidades por mm³), deixando o organismo mais fraco e vulnerável. Os sintomas mais comuns são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento.
No estágio mais avançado, ocorrem as doenças oportunistas pela baixa imunidade, surgindo a AIDS, onde podem ocorrer hepatites virais, tuberculoses, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer.
DIAGNÓSTICO
Segundo o Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV em Adultos e Crianças estabelecido pelo Ministério da Saúde, existem procedimentos técnicos obrigatórios para estabelecer um diagnóstico de HIV, sendo eles:
Teste rápido (anti-HIV);
Caso dê positivo, realizar o exame sorológico Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA);
Caso dê positivo novamente, realizar a confirmação sorológica Western Blot (WB).
Mesmo que o resultado de todos os testes seja negativo, é recomendado pelo Ministério da Saúde que seja feita uma nova coleta sanguínea para repetir todos os exames após 30 dias devido a janela imunológica, que é o período entre a exposição e a produção de anticorpos suficientes para serem detectados nos testes, que dura cerca de um mês.
TRATAMENTO
Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos, estabelecido pelo Ministério da Saúde, o protocolo de tratamento inicial é composto pelo uso de três antirretrovirais, e geralmente, são utilizados:
Tenofovir e lamivudina - da classe ITRNN (inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos) e
Dolutegravir - da classe INI (inibidores da integrase).
Entretanto estes medicamentos podem ser prejudiciais para gestantes, pessoas com insuficiência renal e idosos, pois seus principais efeitos colaterais são: toxicidade renal, náusea, diarreia, vômitos, cefaleia, erupções cutâneas, insônia, dor e desconforto abdominal. Portanto é necessária a substituição de algum destes fármacos por outro com menos reações adversas, conforme o perfil de cada paciente.


EPIDEMIOLOGIA
MUNDO
De acordo com as estimativas epidemiológicas da UNAIDS 2024, de 2022 a 2023, mundialmente houve 1,3 milhões novas infecções por HIV, totalizando 39,9 milhões de pessoas convivendo com o vírus, dado que a maioria destes números são pertencentes a África do Sul e Oriental, sendo 20,8 milhões de casos soropositivos.
Apesar do expressivo número, mundialmente a notificação de novas ocorrências vem diminuindo com o decorrer do tempo, como em 2020, 2022 e 2023, que obtiveram queda de 100 mil casos por ano. Ademais, com base nos dados de soropositivos, a UNAIDS também divulgou a estimativa de pessoas que possuem acesso à terapia antirretroviral, sendo somente 30,7 milhões.
BRASIL
Enquanto isso, segundo o Boletim Epidemiológico de HIV e AIDS de 2023, divulgado pelo Ministério da Saúde, entre os anos de 2007 e 2023, foram notificados no Sistema de Agravos de Notificação (Sinan) 489.594 casos de brasileiros infectados pelo vírus, destes sendo 93.399 (19,1%) pertencentes a região Sul.
RIO GRANDE DO SUL
Quanto ao Rio Grande do Sul, em comparação com os anos de 2020 e 2022, houve um aumento de 3% de casos de infecção pelo HIV, totalizando 2.920 portadores do vírus, tornando o 5° estado com maiores taxas de infecções no Brasil.
ÓBITOS NO BRASIL
Referente às taxas de óbitos, em 2022 o Brasil registrou 10.994 mortes pela síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), representando queda de 521 falecimentos em comparação com o ano anterior (11.515).
ÓBITOS NO RIO GRANDE DO SUL
Em relação ao RS, o estado apresentou queda de 34,8% da mortalidade por AIDS (11,2 para 7,3 por 100 mil habitantes).
AIDS
A partir dos 489.594 casos brasileiros, 114.593 (23%) pertencem a jovens entre 15 e 24 anos, representando 25% para o sexo masculino e 19,6 para o feminino. Ademais, entre 2011 e 2021, 52 mil jovens desta mesma faixa etária evoluíram de portadores do vírus HIV para a AIDS.
PREP
A respeito do número de usuários da profilaxia, segundo o Painel de Monitoramento da PrEP com dados de até outubro de 2024, 157.890 indivíduos obtiveram pelo menos uma dispensa de medicamentos (primeiros 30 comprimidos) nos últimos 12 meses. Destes, 107.795 estão em uso da profilaxia, e 50.095 estão descontinuados até o presente momento.
A maioria dos usuários são autodeclarados brancos ou amarelos (55%), seguido de pardos e pretos, 32% e 13%, respectivamente. Referente a faixas etárias, 41,8% possuem entre 30 e 39 anos, seguido de adultos de 20 a 29 anos, representando 23,3%. Quanto à escolaridade e gênero, 71% possuem mais de 12 anos de educação e 81% dos usuários é representado por homens gays e outros homens cisgênero.


ESTIGMAS REFERENTE A SOROPOSITIVIDADE
Historicamente, a epidemia de HIV/AIDS tem se concentrado em determinados segmentos da população, que destacam-se HSH, pessoas trans e profissionais do sexo.
Esses indivíduos não apenas estão em contextos que favorecem a transmissão do HIV, mas também enfrentam uma realidade social marcada por discriminação e estigmatização. Este estigma não apenas intensifica sua vulnerabilidade ao HIV/AIDS, mas também cria barreiras para o acesso a serviços de saúde.
Segundo o Sumário Executivo sobre o índice de estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS, divulgado pela UNAIDS, de 1604 pessoas entrevistadas:
25,3% já sofreram assédio verbal;
6% já sofreu assédio ou agressão física;
19,6% já perdeu fonte de renda, emprego ou foi rejeitado em ofertas de emprego.
Atitudes discriminatórias também estão presentes nas unidades de saúde. De acordo com análise realizada em 25 países, cerca de 1/4 de pessoas soropositivas relataram ter sofrido estigma ao buscar serviços de saúde não relacionados ao HIV, desencorajando a busca por diagnóstico e tratamento adequados.
Por fim, cabe à sociedade, em especial os profissionais da saúde, se educarem sobre os desafios enfrentados por seus pacientes e atuarem como rede de apoio durante o uso da PrEP. Fornecer atendimentos personalizados pode não apenas contribuir para o combate ao preconceito, mas também como ajudar a superar possíveis barreiras para o tratamento e adesão à profilaxia.


MITOS E VERDADES
Mito 1 - O HIV só afeta grupos específicos de pessoas
Verdade: Embora certas populações possam ter riscos mais elevados, o vírus HIV pode afetar qualquer pessoa, independente de sua idade.
Mito 2 - Você pode contrair HIV através de simples contato social
Verdade: O HIV não é transmitido através de abraços, apertos de mãos ou até mesmo por compartilhamento de alimentos e bebidas. O vírus é transmitido principalmente através de fluidos corporais durante relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de agulhas, ou de mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação.
Mito 3 - Usar preservativo não é necessário se você estiver utilizando a PrEP
Verdade: O uso da PrEP não substitui o preservativo. A profilaxia somente protege o indivíduo contra o vírus HIV, mas não contra outras infecções sexualmente transmissíveis como sífilis, clamídia e gonorreia.
Mito 4 - HIV e AIDS são a mesma coisa
Verdade: Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é o vírus que causa a infecção chamada AIDS, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. A AIDS somente é desenvolvida se o HIV não for tratado adequadamente e o sistema imunológico estiver severamente comprometido. Nem todas as pessoas com HIV desenvolvem AIDS.
Mito 5 - Remédios caseiros ou tratamentos alternativos podem "curar" o HIV
Verdade: Não há cura conhecida para o HIV. O tratamento mais eficaz é baseada na terapia antirretroviral (TAR), que deve ser utilizado sob supervisão médica.


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